Esta semana, uma sequência de acontecimentos reforça o que já se tornou inevitável: stablecoins estão forçando o setor financeiro global a rever seus fundamentos. De falas contundentes de líderes como Patrick Collison (Stripe) e Tushar Jain (Multicoin) ao alerta de risco sistêmico emitido pelo Standard Chartered, a convergência entre inovação e política monetária está no centro do debate.
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Stripe: stablecoins tornarão o yield inevitável
Durante a semana, Patrick Collison, CEO da Stripe, afirmou que as stablecoins irão pressionar bancos a compartilhar rendimento com clientes, ou serão deixados para trás. A fala responde ao avanço dos yield-bearing stablecoins, que oferecem retornos semelhantes aos de títulos do Tesouro americano.
Segundo Collison:
“Os depositantes vão, e deveriam, ganhar algo mais próximo de um retorno de mercado sobre o seu capital.”
A provocação escancara o descompasso entre os juros médios oferecidos por bancos (cerca de 0,4%) e a nova realidade digital, onde stablecoins começam a distribuir retornos globais e em tempo real, mesmo com restrições legais como as impostas pelo GENIUS Act.
Por que isso importa:
✅ A fala da Stripe mostra que mesmo os maiores nomes do sistema financeiro reconhecem a disrupção das stablecoins.
✅ A pressão por yield se torna uma disputa por confiança, não apenas por margem financeira.
✅ A diferenciação entre bancos e plataformas digitais passa a ser percebida diretamente pelos usuários.
GENIUS Act e a descentralização do poder bancário
Tushar Jain, cofundador da Multicoin Capital, classificou o GENIUS Act como o "início do fim do monopólio dos bancos sobre os depósitos". A legislação americana, mesmo restringindo o pagamento direto de juros por stablecoins, abre espaço para modelos indiretos, explorados por afiliadas e plataformas parceiras.
Segundo estimativas do Tesouro dos EUA, até US$ 6,6 trilhões podem sair do sistema bancário tradicional e migrar para stablecoins nos próximos anos. Em um cenário onde Big Techs como Apple e Meta consideram lançar stablecoins próprias, a disputa pelos depósitos entra em nova fase.
Por que isso importa:
✅ A regulação americana deu o sinal verde para o surgimento de um mercado global e competitivo de stablecoins.
✅ Pela primeira vez, instituições bancárias precisam disputar clientes com infraestruturas baseadas em código.
✅ O modelo de rendimento embutido pode se tornar a nova régua da eficiência financeira.
Bancos emergentes em alerta: risco de evasão de capital via stablecoins
O Standard Chartered divulgou um relatório apontando que até US$ 1 trilhão podem sair de bancos de países emergentes para stablecoins nos próximos três anos. A razão é clara: com 99% das stablecoins atreladas ao dólar, elas se tornaram alternativas estáveis em economias com volatilidade cambial.
A frase que sintetiza o relatório:
“O retorno do capital importa mais do que o retorno sobre o capital.”
Em termos geopolíticos, o paradoxo é evidente: enquanto os EUA demonstram preocupação com a erosão dos bancos domésticos, a própria infraestrutura do dólar via stablecoins se fortalece em escala global, inclusive em regiões onde a moeda americana já substitui o dinheiro local como unidade de conta.
Por que isso importa:
✅ Stablecoins estão sendo reconhecidas como risco sistêmico por instituições tradicionais.
✅ O processo de "dolarização via stablecoin" pode redesenhar o equilíbrio monetário em mercados emergentes.
✅ Bancos centrais terão que repensar sua estratégia frente a instrumentos financeiros globais e descentralizados.
Token2049 e o amadurecimento do setor cripto
Durante o Token2049 em Singapura, a narrativa dominante foi de maturidade. O evento reuniu líderes de empresas como EY, Tether, dYdX e Stable, mostrando como o setor está evoluindo da fase experimental para uma estrutura mais robusta, com foco em privacidade corporativa, governança e compliance.
Paul Brody, da EY, resumiu o momento:
“As finanças tradicionais e as cripto estão se encontrando no meio do caminho.”
Entre os destaques, Reeve Collins (Stable/Tether) apresentou o conceito de “Stablecoin 2.0”: ativos estáveis que integram rendimento, governança e transparência, ampliando seu papel para além da simples representação do dólar.
Por que isso importa:
✅ O ciclo atual marca uma convergência entre padrões institucionais e tecnologias cripto.
✅ O setor ganha musculatura regulatória sem perder eficiência operacional.
✅ A adoção real começa a suplantar o ruído, e isso muda a natureza dos ciclos de inovação.
União Europeia propõe centralizar regulação sob a ESMA
Enquanto os EUA avançam na criação de mercados competitivos de stablecoins, a União Europeia quer consolidar a supervisão sob a European Securities and Markets Authority (ESMA). A proposta visa unificar a aplicação do MiCA e reduzir as assimetrias regulatórias entre os países membros.
Hoje, cada país da UE pode emitir licenças próprias para exchanges e emissores, um modelo que a Comissão Europeia quer substituir por uma regulação centralizada e supranacional.
Por que isso importa:
✅ A Europa busca uma abordagem uniforme para mitigar riscos e garantir previsibilidade.
✅ A centralização pode gerar tensões entre países com visões diferentes sobre inovação financeira.
✅ O desafio será encontrar o ponto de equilíbrio entre proteção regulatória e fomento à competitividade.
Um Giro pela Lumx
Temos novidades importantes a caminho que em breve poderão ser compartilhadas com mais detalhes.
Enquanto isso, nossa CRO Nathaly Diniz está em Madri para o Merge Madrid, um dos principais fóruns que conecta líderes da Europa e América Latina em torno de inovação em fintechs, Web3 e pagamentos digitais. Se estiver por lá, conecte-se com Nathaly aqui.
E um spoiler exclusivo: o episódio 3 da nova temporada do Stable Talks estreia na próxima semana. Recebemos Rachael Akali, da Yellowcard, uma das maiores fintechs cripto da África, para discutir a expansão das stablecoins em economias emergentes, com paralelos relevantes para o contexto latino-americano.
Confira os episódios anteriores aqui e não perca esse próximo capítulo.
Em perspectiva:
A edição desta semana da Stable News mostra que estamos além da fase de validação. O efeito dominó iniciado pelas stablecoins já pressiona instituições bancárias, molda políticas públicas e desafia modelos de negócio estabelecidos.
Se antes a pergunta era "será que stablecoins vão prosperar?", agora a disputa é por quem irá definir os trilhos dessa nova infraestrutura financeira.
Até a próxima edição.