Pagamentos: Eficiência, praticidade e novos fluxos
Stablecoins deixaram de ser uma curiosidade do universo dos criptoativos para se tornar uma ferramenta operacional relevante. Segundo estimativas públicas, o estoque circulante ultrapassou US$250 bilhões em meados de 2025, com volumes de liquidação superiores a US$3.7 trilhões em 2023 e projeção para mais de US$5 trilhões em 2024.
Os benefícios relatados por empresas e instituições que utilizam stablecoins incluem:
Liquidação quase instantânea: Pagamentos podem ser processados em minutos, 24 horas por dia, reduzindo o tempo de espera comum em transferências bancárias tradicionais.
Redução de custos operacionais: Taxas de envio na casa dos centavos, contrastando com modelos tradicionais de remessas internacionais que cobram de 1.5% a 2.9% por operação.
Possibilidade de automação: Empresas integram APIs e contratos inteligentes para automatizar recebimentos, pagamentos, gestão de folha e importação/exportação.
Pesquisa recente da Fireblocks aponta que, entre 295 instituições financeiras entrevistadas globalmente, 49% já processam pagamentos com stablecoins, enquanto 41% estão em fase de piloto ou planejamento. Embora esses números sejam amostrais, refletem uma tendência de expansão progressiva no uso desses ativos para finalidades transacionais legítimas.
Na América Latina, a utilidade ganha contornos práticos:
Remessas EUA-México: Estima-se que de 2% a 3% das remessas já sejam processadas via stablecoins, o que representa movimentação anual de US$3–4.5 bilhões. Em exchanges como a Bitso, mais de 10% desse fluxo já passou por stablecoins em 2024.
Proteção cambial: Em contextos de inflação elevada, como na Argentina (211.4% em 2023), mais de 60% das operações cripto já utilizam stablecoins como forma de hedge contra desvalorização da moeda nacional.
Política: Regulação, soberania e competição digital
O avanço das stablecoins impôs novos desafios a reguladores e formuladores de política econômica. É um movimento menos de ruptura do que de adaptação, com diferentes países buscando equilibrar inovação e mitigação de riscos sistêmicos.
Estados Unidos: O GENIUS Act, aprovado em 2025, trouxe diretrizes federais claras para emissores de stablecoins, exigindo lastro integral em reservas segregadas e afastando a classificação como “valor mobiliário”, o que deu maior previsibilidade ao setor e às instituições que planejam atuar no segmento.
União Europeia: Desde 2024, o regime MiCA regula stablecoins como moeda eletrônica, obrigando registro, supervisão central e segregação de ativos. Já há emissões licenciadas, como o EURI, e projeções de crescimento de até 37% no estoque europeu desses ativos até o próximo ano.
América Latina: Países como Brasil, México, Venezuela e Argentina figuram entre os 20 principais mercados em adoção cripto e stablecoin, de acordo com o índice da Chainalysis. O uso massivo em pagamentos de remessas, comércio internacional e proteção cambial pressiona governos locais a desenvolverem estruturas regulatórias próprias, enquanto monitoram riscos de evasão e compliance.
No plano global, stablecoins dolarizadas já representam mais de 97% do mercado, evidenciando a digitalização da hegemonia do dólar e impactando discussões sobre soberania monetária e estratégias de controle de capitais.
Poder: Infraestrutura, concentração e governança
A batalha menos visível ocorre na camada da infraestrutura: quem controla a emissão, custódia, compliance e liquidez dessas moedas digitais? O mercado é altamente concentrado. Em julho de 2025:
Stablecoin | Suprimento (US$ Bi) | Participação no mercado | Observações |
---|---|---|---|
USDT | 143 | ≈57% | Multi-rede (Tron 54%) |
USDC | 58 | ≈23% | Forte adoção institucional |
Others | 49 | 20% | DAI, FDUSD, EURI etc. |
Esse domínio de emissores privados levanta questionamentos sobre risco sistêmico, governança e a possibilidade de bloqueios ou sanções extraterritoriais, temas que recentemente ganharam destaque após congelamentos de ativos em resposta a demandas judiciais e sanções internacionais.
Além disso, empresas do setor reportam amadurecimento nas demandas: 86% das organizações analisadas possuem APIs, armazenam chaves criptográficas de forma avançada e implementam sistemas automatizados de compliance (KYC/KYT), tornando a adoção de stablecoins cada vez mais alinhada com padrões bancários tradicionais.
Desafios e oportunidades para empresas
Com a adoção gradativa, surgem perguntas pragmáticas para empresas:
Como encaixar stablecoins na tesouraria e cadeia de suprimentos internacional?
Que provedores e parceiros oferecem custódia, governança e integrações mais robustas?
Como mapear riscos de concentração e definir políticas de compliance multijurisdicionais?
Quais segmentos (remessas, folha, trade finance) oferecem ganhos imediatos e mensuráveis?
O caminho mais viável é começando com pilotos internos, como salários de equipe internacional, fornecedores ou clientes estratégicos, mapeando ganhos operacionais e testando fluxos de compliance.
O papel das stablecoins na infraestrutura monetária não é de substituição pura e simples dos sistemas tradicionais, mas de integração e resposta a necessidades específicas de eficiência, velocidade, transparência e redução de custos. O crescimento e o interesse institucional são evidentes, mas também são os desafios regulatórios e os riscos de concentração.
A recomendação é que empresas e instituições se aproximem desse tema com pragmatismo, priorizando conhecimento técnico, análise jurídica e pilotos controlados, para inserir inovação de forma responsável e sustentável no contexto maior do sistema financeiro global.
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