A Stable News é a curadoria semanal da Lumx com os principais acontecimentos sobre stablecoins e seu impacto no ecossistema financeiro digital global. Nesta edição, destacamos a iniciativa da Circle para se tornar um banco com licença nacional, o avanço da Coinbase na Europa sob o marco regulatório MiCA, a entrada da Revolut no debate sobre stablecoins e seu foco estratégico na América Latina, o novo marco regulatório de Hong Kong, e os alertas do report “Cryptomercantilism vs. Monetary Sovereignty” sobre riscos à soberania monetária frente à consolidação de emissores privados.
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Circle solicita licença bancária nacional para supervisionar suas reservas de USDC
A Circle entrou com pedido junto ao OCC (Office of the Comptroller of the Currency) para criar um banco fiduciário nacional, o First National Digital Currency Bank. A proposta é administrar diretamente as reservas do USDC, stablecoin com mais de US$ 61 bilhões em circulação. A licença permitiria à Circle operar sob as exigências do recém-aprovado GENIUS Act e reforçar sua posição como emissor regulado de infraestrutura financeira.
Embora a licença não permita atividades tradicionais como concessão de crédito ou captação de depósitos, a estrutura oferece autonomia na custódia de ativos, alinhando-se com padrões de governança esperados por reguladores e parceiros institucionais. O modelo aproxima o USDC de um rail financeiro autorizado, com ambição de se tornar uma camada monetária interoperável com a infraestrutura bancária dos EUA.
Por que isso importa:
✅ O pedido reforça o posicionamento da Circle como prestadora de infraestrutura sistêmica para o dólar digital.
✅ Uma licença bancária nacional permitiria à Circle integrar stablecoins ao sistema financeiro sem depender de intermediários tradicionais.
✅ O movimento antecipa exigências do GENIUS Act, mostrando que emissores de stablecoins estão se preparando para competir em igualdade com bancos.
Coinbase obtém licença sob MiCA e fortalece presença regulatória na Europa
A Coinbase obteve sua licença completa sob o regulamento MiCA (Markets in Crypto-Assets), emitida pelo órgão regulador de Luxemburgo. A autorização permite à empresa operar de forma integrada nos 27 países da União Europeia, oferecendo produtos cripto sob um marco legal unificado. A iniciativa consolida Luxemburgo como o hub europeu da Coinbase e integra esforços anteriores de licenciamento já realizados em países como Alemanha, França, Itália e Espanha.
O movimento marca um passo estratégico para tornar a operação europeia da Coinbase mais eficiente e coesa, além de sinalizar aos reguladores globais o compromisso da empresa com práticas de compliance. Em um momento em que os EUA ainda estão estruturando suas leis, o avanço da Coinbase na Europa indica onde a regulação clara pode acelerar a adoção institucional.
Por que isso importa:
✅ A MiCA permite à Coinbase operar com segurança jurídica e escala em um dos maiores mercados econômicos do mundo.
✅ Estabelecer Luxemburgo como hub europeu fortalece a posição da empresa em um território com regulamentação pró-inovação.
✅ Demonstra como ambientes regulatórios previsíveis impulsionam o crescimento e a institucionalização de produtos cripto.
Revolut estuda emissão de stablecoin própria e consolida sua entrada na América Latina
A Revolut, neobank com 55 milhões de usuários em mais de 160 países, está em conversas com ao menos uma empresa cripto-nativa para desenvolver sua própria stablecoin. O plano integra a expansão de sua exchange cripto Revolut X, o lançamento de produtos bancários integrados e a recente aquisição do Banco Cetelem na Argentina, que inclui uma licença bancária local.
Com presença consolidada na Europa e novos investimentos na América Latina, a empresa aposta na emissão de stablecoins como forma de reduzir custos de transação, ampliar controle sobre a infraestrutura de liquidação e capturar rendimento sobre as reservas. Com base na distribuição já existente, a Revolut pode usar sua própria moeda como ferramenta interna para pagamentos, remessas e gestão de tesouraria inclusive como resposta à volatilidade cambial de países como a Argentina.
Por que isso importa:
✅ Mostra como neobancos estão criando seus próprios trilhos financeiros, reduzindo dependência de emissores terceiros.
✅ Reforça a tese de que stablecoins serão cada vez mais um ativo estratégico de plataformas com forte base de usuários.
✅ A aposta na América Latina indica que a região continua sendo um dos principais laboratórios para a adoção pragmática de moedas digitais.
Hong Kong cria regime de licenciamento para stablecoins e se posiciona como hub regulatório na Ásia
O Conselho Legislativo de Hong Kong aprovou em maio o “Stablecoins Ordinance”, estabelecendo um regime de licenciamento robusto para emissores de stablecoins referenciadas em moedas fiduciárias. O HKMA (autoridade monetária local) abrirá oficialmente os pedidos de licença em agosto de 2025, e já iniciou consultas com o setor para definir as diretrizes operacionais.
O objetivo é claro: transformar Hong Kong em referência regulatória global, com foco em estabilidade monetária, conformidade internacional e atração de emissores institucionais. O modelo exige altos padrões de reservas, governança, políticas de resgate e compliance transfronteiriço, ancorado nas diretrizes do FSB (Financial Stability Board).
Por que isso importa:
✅ A regulação de stablecoins se consolida na Ásia, com Hong Kong liderando um modelo voltado à adoção institucional e ao controle de riscos.
✅ A estrutura de licenciamento poderá servir de modelo para países que buscam equilibrar inovação com estabilidade financeira.
✅ O movimento aproxima ainda mais o ecossistema digital do comércio global, especialmente para regiões com relações comerciais intensas com a Ásia como o Brasil.
Relatório “Cryptomercantilism vs. Monetary Sovereignty” alerta para riscos geopolíticos da infraestrutura privada de stablecoins
O report publicado por Alex Johnson analisa os impactos potenciais do crescimento de stablecoins privadas sobre a soberania monetária dos países, especialmente em economias emergentes. O texto argumenta que grandes emissores como Circle e Tether podem se tornar canais indiretos de influência financeira e geopolítica, controlando uma camada crítica de liquidez global.
O conceito de “cripto-mercantilismo” explora como emissores buscam maximizar controle sobre infraestrutura e distribuição, muitas vezes com pouca transparência e alinhamento com interesses locais. Em contraponto, o autor propõe um modelo de “soberania monetária digital”, no qual estados devem estruturar suas próprias moedas digitais interoperáveis, com infraestrutura pública ou coordenada entre instituições.
Por que isso importa:
✅ A discussão reforça que a infraestrutura das stablecoins não é neutra: envolve disputas por poder, controle e influência sobre fluxos financeiros.
✅ A tese de uma “infraestrutura de moeda privada” como extensão de interesses corporativos (ou até estatais) impõe novos desafios para países do Sul Global.
✅ O debate sobre soberania digital e padrões técnicos será central na próxima década, e stablecoins estão no coração dessa disputa.
Stablecoins e o momento de convergência das infraestruturas financeiras globais
De bancos pedindo licença para virar custodiante das próprias reservas a neobancos lançando suas próprias moedas, passando por hubs regulatórios como Hong Kong e a entrada de empresas cripto sob regras europeias: as últimas semanas mostram um movimento coordenado e estratégico. Cada player está se posicionando para não apenas emitir stablecoins, mas definir os trilhos, controles e redes em que elas circularão.
Mais do que adoção, o debate agora é sobre arquitetura. Interoperabilidade, compliance, reservas, regulação e alcance geográfico são as novas métricas de competição. As stablecoins estão deixando de ser apenas ferramentas financeiras estão se tornando peças centrais da infraestrutura monetária digital global. E entender quem constrói, controla e conecta essas peças é entender o novo sistema financeiro em formação.
Nos vemos na próxima edição. Até breve.